A buzzword na boca de toda a gente este ano foi Blockchain. Bastava dizeres esta palavra para mostrares a toda a gente que estavas “dentro da cena”. O que eu acho fascinante no Blockchain é o facto da tecnologia estar a possibilitar a utopia e é, possivelmente, a coisa mais revolucionária que eu já ouvi.
O que é o Blockchain? É uma tecnologia de registo não centralizado de transações financeiras. Passo a explicar: Hoje em dia, se o Zé quiser transferir 100€ à Maria, tem de dar ordem ao seu banco para o fazer. O banco retira os 100€ da conta do Zé e envia-os para a Maria ficando registado no “livro de registo” do banco que isso aconteceu. O banco é o nódulo central da operação. Toda a informação tem de passar pelo banco. É no banco que tanto o Zé como a Maria depositam confiança para realizar correctamente esta operação (e a palavra confiança aqui é importante). E o “livro de registo” onde o banco regista esta operação é o coração disto tudo. O Blockchain surge porque alguém lançou para a mesa a seguinte pergunta: “e se não for preciso um agente de registo centralizado que garanta a confiança da operação?”.
O Blockchain é um registo não centralizado de transações. Neste momento altamente popularizado por moedas digitais como o Bitcoin e o Ethereum. Como é que isso funciona na prática?
Imaginem um grupo de 6 pessoas. A pessoa #2 decide enviar 100€ à pessoa #5. Todas as 6 pessoas do grupo têm um “livro” de registos próprio e registam numa página do seu livro que Sábado, dia 11 de Novembro às 10:08 da manhã o #2 enviou 100€ ao #5. À medida que vai havendo mais transações essa página vai enchendo. Quando a página fica cheia, antes de se passar para a próxima página, é preciso “selar” de forma segura e inequívoca esta página para que seja impossível modificá-la e para que todos os membros do grupo tenham confiança de que a informação lá contida está segura para sempre. Isto é feito através de criptografia. Todas as pessoas deste grupo agem em conjunto para encontrar uma senha criptográfica. Ou seja, o computador de cada pessoa do grupo está a usar o seu poder de processamento nesta operação altamente complexa em prol do objectivo comum. Todos os elementos do grupo “concordam” numa chave criptográfica e a página é selada. Começa-se então a registar transações numa nova página. Imaginem que cada página é um bloco. Cada conjunto de páginas é uma corrente de blocos. Logo, Blockchain.
E se um membro do grupo quiser aldrabar uma página? A corrente de blocos, independentemente do número de pessoas que estiver a criar registos é só uma. Ou seja, imagina que tu agoras “entras” no mundo do bitcoin e fazes uma transação. Essa transação vai-se juntar a uma corrente enorme e de muitos anos de transações Bitcoin. No Bitcoin só existe uma Blockchain (que está com 100gb neste momento). A beleza da segurança do Blockchain é que o sistema está feito para que todos os blocos sejam dependentes do bloco anterior. OU SEJA, se um indivíduo desonesto quiser modificar um dos blocos terá de modificar todos os blocos existentes depois desse. O tempo e poder de processamento necessário para isto será impossível visto que a maioria continua a criar novos blocos naquele mesmo momento. O indivíduo teria de ter mais tempo e poder de processamento que todos os outros para conseguir apanhar “o atraso”. No Blockchain, um indivíduo nunca se conseguirá sobrepôr à maioria.
Agora, vamos extrapolar um bocadinho. Havendo capacidades tecnológicas para tal, os princípios do Blockchain podem revolucionar todos os sistemas centralizados. Como disse o Bryan Johnson, CEO da Kernel, o Blockchain pode tornar obsoleta a ideia de um governo centralizado. Porque cada indivíduo age como agente que estabelece a “confiança” com o indivíduo do lado. Esta ideia, que a tecnologia está a permitir na prática, é talvez a coisa mais revolucionária que eu já ouvi.
Nos últimos dias tentei trazer aqui algumas ideias que achei verdadeiramente interessantes do que aconteceu na Web Summit. Escrevi sobre inteligência artificial e ética, carros autónomos, a voz substituir o mobile/táctil como interface dominante e o Blockchain, entre outras coisas. Muito mais aconteceu mas estas foram as que mais me marcaram e que achei que irão dominar o nosso futuro imediato. No entanto, do que eu vi quando acabou a conferência, “cá fora” a comunicação social apenas falou da Caitlyn Jenner, Robots falantes, Bruno de Carvalho, Sara Sampaio e carros voadores. E, por favor, corrijam-me se eu estiver errado, mas eu não vos escrevi aqui coisas mil vezes mais interessantes do que essas? Acho que a comunicação social fez um trabalho miserável em transmitir aquilo que lá aconteceu. Diminuíram a importância do que foi falado só se focando em meros fait divers. A comunicação social tradicional banaliza-se e estupidifica-se a ela própria. São eles que se estão a matar a si próprios.
Gostei muito. Ouvi gente incrível. Conheci pessoas fascinantes. Espero que tenham gostado do que escrevi! Tentei passar cá para fora aquilo de que gostei mais. Obrigado por terem lido!