Ontem o meu amigo Henrique Câmara Pina estreou a sua primeira longa num São Jorge completamente esgotado (ficou gente à porta sem conseguir entrar).
O filme é um documentário sobre os Arquitectos Aires Mateus e, para clarificar antes de tudo o resto que eu vou escrever, eu percebo absolutamente zero de arquitectura. A meu ver, o filme faz um trabalho excelente em transmitir as ideias fundamentais dos arquitectos.
Conceitos fascinantes, desconhecidos para mim, e que causaram interessantes conversas após a exibição. Ideias como criar um espaço a partir do seu vazio (“o avesso da matéria”). O peso como representação da permanência e a leveza como representação do efémero.
Durante todo o filme há uma bailarina – Teresa Alves da Silva – que preenche os espaços com a sua expressão corporal (porque o espaço é criado à medida do corpo e a dança transmite também essa ideia de leveza e peso).
A câmera não é uma espectadora da arquitectura mas sim uma interveniente. A própria câmera tem movimentos de dança (props ao DOP Antonio Lima).
Como disse o Manuel Aires Mateus, ele vê a arquitectura como uma camada de sobreposição a uma realidade. O que o Henrique conseguiu fazer foi pegar nessa realidade e sobreposição e sobrepôr-lhe mais duas camadas. A da dança e a da câmera. Fazendo com que o filme não seja passivo em relação ao objecto que retrata. Imprime uma visão e uma interpretação de cinema e do seu realizador ao dito objecto.
Posso ser suspeito por ser amigo mas é um filme do caraças. Para quem gostar de linguagem de cinema – e quem gostar do Terrence Malick vai gostar muito! – fica a sugestão!
(Foto still: “Aires Mateus: Matéria em Avesso”)