Em 1796, um cientista inglês chamado Edward Jenner teve a seguinte simples observação que, sem ele saber, viria a mudar o curso da história: ele reparou que as milkmaids – as empregadas que ordenhavam as vacas e preparavam o leite (como esta celebremente retratada pelo Vermeer) – eram estranhamente imunes ao vírus da varíola.
Quando se fala em grandes assassinos, algumas pessoas mencionam Hitler, outras Estaline ou até mesmo o cancro. Mas ninguém fala da Varíola. Só no século XX, a varíola foi responsável pela morte estimada entre 300 a 500 milhões de pessoas. 4 em cada cinco crianças infectadas morriam.
As milkmaids costumavam ter pústulas no corpo por apanharem a “varíola das vacas”, uma doença semelhante mas menos violenta que a humana. E o Edward Jenner, sentado em sua casa, colocou a seguinte pergunta: será que por apanharem uma versão mais light da doença, as milkmaids ficam imunes à varíola?
Essa pergunta mudou tudo.
A 14 de Maio de 1796 o Edward Jenner testou a sua hipótese. Retirou pús das mãos de uma milkmaid, chamada Sarah Nelmes, infectada pela varíola das vacas e infectou o filho do jardineiro, James Phipps de 8 anos. O rapaz teve apenas uma febre. Mais tarde, o cientista infectou o rapaz com o vírus humano da varíola. Nada aconteceu. O miúdo estava imunizado. Foi a primeira vez que foi provado e demonstrado que o pús da Varíola das vacas criava imunidade à Varíola humana. O nome latim para “varíola das vacas” é “Variolae vaccinae” e é daí que vem a palavra “vacina”.
O Edward Jenner tinha criado a primeira vacina.
O cientista é considerado um dos pai da imunologia e dizem que o seu trabalho “salvou mais vidas do que o trabalho de qualquer outro humano”.
Mesmo na altura, o seu trabalho foi tão amplamente falado que, mesmo estando a França em guerra com a Inglaterra, o Napoleão mandou vacinar todas as suas tropas e condecorou o Edward Jenner. Aceitou ainda libertar dois prisioneiros de guerra a pedido do cientista dizendo que “não poderia recusar nada a um dos maiores benfeitores da humanidade”.
A vaca cuja varíola foi usada chama-se Blossom e há um quadro seu pintado e pendurado na bibioteca da Universidade de Medicina de St. George.