O que está a acontecer no Curto-Circuito é um fenómeno muito interessante e revelador do estado dos media “tradicionais”. O programa começou a ir buscar à internet alguns dos seus apresentadores. O Conguito, a Bumba na Fofinha e agora o Sensivelmente idiota. Foi-me dito – embora possa não ser verdade – que os programas com mais audiências são aqueles em que determinados youtubers são os convidados/entrevistados. Isto marca uma clara distinção no tempo. As pessoas costumavam ir à tv para ganharem exposição. O programa era o gerador de atenção para o indivíduo. Neste momento, o indivíduo – através da sua base de dados de seguidores – é o gerador de atenção para a programa.
Outros movimentos semelhantes podem ser vistos na rádio: com a contratação do Sena na Cidade e o Conguito na Mega.
No publishing também: com a revista d’A Maria Vaidosa e da SEA3PO (viram a fila monumental no Colombo para ela assinar autógrafos?).
Sendo que é claro que alguns meios já perceberam isto, é da minha percepção que muitas destas “personalidades digitais” ainda não compreenderam verdadeiramente o poder que têm nas mãos. Porque assim que eles perceberem que, ao serem entrevistados num programa as audiências sobem e o programa vai utilizar esses números para vender publicidade para se sustentar, vão perceber que o poder está todo do lado deles. O meio precisa deles e não o contrário. Acredito que num futuro bem próximo a mera ida de certos youtubers/instagrammers a um programa como entrevistados vá passar a ser uma presença paga.
Muito gente acha chocante as quantidades de dinheiro que este mercado dos produtores de conteúdos digitais já mexe. Eu tenho a certeza que só estamos a ver a ponta do icebergue.
Como disse uma vez o Casey Neistat: “The doubters are all drinking champagne on the top deck of the titanic. And we are the f*cking iceberg.”