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Um apelo aos influencers

Tens milhares de seguidores e uma marca fala contigo pela primeira vez para promoveres o produto X. Tu adoras aquele tipo de produtos. O teu entusiasmo sobre o produto X passa aos teus seguidores. É genuíno. Agora põe-te nos pés das pessoas que te seguem. Como gostam de ti possivelmente ficaram contagiadas com o teu entusiasmo com o produto X. Faz todo o sentido estares a promover um skate eléctrico porque toda a gente sabe que sempre adoraste skates e fazes skate desde pequeno. Mas o que é que achas que vai acontecer se no dia seguinte ao skate estiveres a promover um relógio, e depois um restaurante, e a seguir cigarros electrónicos?

O Seth Godin, um dos maiores pensadores do marketing, diz que as duas pedras basilares da economia moderna são a confiança e a atenção. O marketing de influência funciona por causa disto. É essa a razão pela qual se colocou celebridades a fazer anúncios de TV. Tu tens a atenção e a confiança das pessoas que te seguem.

Mas a confiança é um recurso curioso. Estiveste anos a criar conteúdos que criaram em mim uma imagem de quem tu és. Essa imagem é a tua marca, a tua reputação. Estiveste a trabalhar esta relação comigo para que eu ganhe confiança em ti. Mas, num estalar de dedos, podes perdê-la. A confiança gasta-se.

Todos os grandes produtores de conteúdos da internet dizem que a parte mais importante do que fazem é o seu público. É criar coisas para as pessoas. Ao ponto de fazerem conteúdos que os seus seguidores pedem. É uma relação bidireccional.

Mas não é assim que eu me sinto quando vejo alguém que todos os dias promove um produto diferente como se o seu perfil fosse o catálogo de uma loja. Eu deixei de acreditar em ti. Eu não acredito que uses aquilo. Eu não acredito que gostes daquilo. Só me estás a usar para teu proveito. Para encheres os bolsos à minha custa. Deixou de ser sobre o público. Passou a ser sobre ti. Essa, na minha opinião, vai ser a “morte do artista” digital.

E eu não estou a dizer para não aproveitares e usares os teus canais para ganhar dinheiro. Nada disso. Eu só te quero dizer para seres muito inteligente na forma como usas os créditos da confiança que as pessoas têm em ti. Porque ela não volta. Se me queres vender alguma coisa diz-me a verdade. A tua opinião verdadeira sobre o produto. O bom e o mau. Vê o exemplo dos youtubers de tecnologia e de maquilhagem. As marcas deles cresceram a falar da sua opinião verdadeira sobre os produtos. A câmera da frente tem boa qualidade ou é um ponto fraco? E o tempo de bateria? O protector solar deixa um cheiro fixe na pele ou é um bocado gorduroso nas mãos? Se eu comprar o produto vou descobrir isso tudo sozinho. E tu podes ter sido a pessoa que me ajudou na minha escolha ou a que se limitou a escrever a descrição que te mandaram e não me disse a verdade.

E podem dizer “ah mas uma marca não vai querer que eu fale das coisas que eu ache menos boas”. Ok. Mas então o que é que te faz querer dar a cara sobre algo pela qual tens de mentir?

A confiança das pessoas que vos seguem é o vosso poder. Não vendam a vossa confiança ao desbarato. Por borlas e a todas as marcas que vos oferecem tuta e meia. Por mais marcas que queiram acesso à confiança que os vossos seguidores têm por vocês, vocês é que estão no controlo. E sabem o que é que acontece a alguma coisa que muita gente quer e quase ninguém consegue ter? Torna-se muito mais valiosa.

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